A lei do uso

Tudo o que não usamos, perdemos: habilidades, conexões, conhecimento e até a saúde. A “Lei do Uso” nos lembra que prática, atenção e dedicação são essenciais para manter o que realmente importa vivo. O que você está deixando de usar e pode estar atrofiando na sua vida?

A lei do uso
Photo by John Cameron / Unsplash

Tudo o que não usamos perdemos - conhecimentos, habilidades, relacionamentos, saúde. Já parou para pensar no que está deixando de lado?

Como alguém que carrega o papel de pai, marido, profissional, professor, síndico e mais alguns, tenho aprendido ao longo da vida que, se algo tem valor para nós, precisa ser exercitado. A lei do uso, o princípio de que aquilo que não usamos perdemos, tem me ajudado em diversas áreas da vida e gostaria de compartilhar algumas reflexões sobre como ela se aplica aos estudos, a resolução de problemas e conflitos e outras tantas áreas.

O valor da prática contínua

Ministrar cursos me colocou frente a frente com a verdade universal de que o conhecimento só permanece vivo quando é revisitado e aplicado. Você já se viu lutando para relembrar algo que sabia bem no passado? Aprender algo novo pode ser fascinante, mas o desafio é não deixar esse aprendizado se apagar. Quando paro de estudar algo por um tempo, percebo o quanto os detalhes escapam, e retomar exige esforço dobrado. Por isso, tento cultivar o hábito de revisar conceitos regularmente, não apenas para ensinar, mas para continuar aprendendo e me mantendo relevante em um campo tão dinâmico como tecnologia. Escrever para este site me ajuda muito nisso também.

Exercício para a mente

Ler. A leitura, para mim, é o combustível da criatividade. Por um tempo, achei que não tinha mais tempo para os livros, mas percebi que a leitura não é um luxo mas uma necessidade. Abandonar o hábito é como deixar um músculo atrofiar. Temos de concordar que quem sabe ler e não lê não difere muito de quem não sabe ler, certo? Por isso, mesmo com a correria do trabalho e das responsabilidades familiares, busco tempo para ler algo todos os dias, seja um artigo técnico, um romance ou até mesmo uma fábula infantil que meus filhos escolhem para a hora de dormir.

Resolução de problemas e conflitos

Como síndico, tenho de lidar com muitos tipos de conflitos e problemas. No passado, em um condomínio grande, eles eram constantes, hoje em um condomínio pequeno, eles são esporádicos. A habilidade de resolver questões complexas é como um músculo que precisa ser exercitado.

Aprendi que evitar encarar problemas de frente nos faz perder a habilidade de resolvê-los de forma eficiente, obrigando-nos a lidar com soluções menos ideais, o que quase sempre é prejudicial. Cada conflito, por menor que seja, é uma oportunidade valiosa para exercitar a empatia, o raciocínio lógico e, acima de tudo, a paciência.

Construção de relacionamentos

Ser pai é a experiência mais transformadora da minha vida. Mas também é um lembrete constante de que os relacionamentos precisam de dedicação. A lei do uso é clara aqui: se não investirmos tempo, carinho e atenção, os laços enfraquecem. Tiro momentos intencionais para brincar com meus filhos, ter conversas com minha esposa e cultivar amizades, porque sei que o que não é alimentado não sobrevive, por mais perto que as pessoas estejam, o contato apenas não é o suficiente, precisamos nutri-los.

Sabe aquele amigo que você não vê faz tempo, mas quando encontra parece que nunca se afastaram? Pois bem, isso é só uma impressão errônea, não deixe acontecer.

Desenvolvimento físico e emocional

Aos 41 anos, manter-me ativo é mais do que uma escolha estética; é uma questão de saúde. Exercícios regulares, principalmente a corrida, me dão energia para trabalhar, brincar com meus filhos e viver intensamente, além de me obrigar a controlar a alimentação me faz ter um controle mínimo da minha agenda para que o exercício esteja sempre nela.

No lado emocional, meditação e reflexão têm sido fundamentais para lidar com o estresse e manter o equilíbrio. Assim como o corpo, a mente também precisa de prática constante para se fortalecer.

Nem tudo é trabalho

Parece irônico, mas precisamos praticar o ato de nos divertir. Com tantas responsabilidades, é fácil esquecer o que nos faz felizes. Qual atividade você faz que te deixa feliz e com qual frequência você tem feito?

Aprendi com meus filhos que a diversão não precisa ser complicada: brincar no parque, montar um quebra-cabeça ou até uma noite de jogos em família podem reacender a alegria simples da vida.

O Combustível da Vida

A vitalidade não é apenas sobre energia física, mas também sobre paixão e entusiasmo em tudo o que fazemos. Se não a cultivamos, a vida se torna uma rotina sem brilho. Encontro formas de renová-la ao cuidar de mim mesmo, dormindo bem, comendo de forma equilibrada e tirando momentos para simplesmente respirar, apreciar o presente e fazer coisas que me dão energia. Qual é a atividade que te traz energia? Eu gosto de aprender coisas novas, qualquer coisa, desde um assunto novo, aprofundar em algo que já conheço ou até uma receita de algo que talvez eu faça um dia, é o que me permite acordar animado para um novo dia e encarar os desafios com disposição.

O Desejo de Crescer

A ambição é uma força que me impulsiona a buscar sempre mais – não por vaidade, talvez por medo de saber que eu poderia ter feito melhor e não fiz. Como profissional, professor e pai, tenho objetivos que quero alcançar e que demandam esforço constante. Quando deixo de lado a ambição, corro o risco de cair na zona de conforto. Para mantê-la viva, estabeleço metas claras, acompanho meu progresso e celebro cada conquista, por menor que seja. Você já deixou alguma ambição morrer dentro de ti? Quando abandonamos a ambição corremos o risco de nos contentarmos com uma versão menor nossa e podemos ser mais, sempre podemos, mesmo que os outros digam que não - os outros são os outros.

Espiritualidade, caridade e fé

A espiritualidade e a prática da caridade são como uma bússola que me ajudam a manter o rumo em um mundo muitas vezes caótico. A conexão com algo maior – seja por meio da fé, da gratidão ou da contemplação – precisa ser alimentada. Sempre. Quando negligencio esse lado, sinto-me desconectado e perdido.

A caridade, por sua vez, é uma prática que não apenas beneficia os outros, mas também me transforma. Participar de ações comunitárias ou ajudar alguém em necessidade reforça minha empatia e me mostra o quanto privilegiado eu sou por diversas coisas.


Tudo o que é importante na vida precisa de atenção e prática. Quando negligenciamos uma área, pagamos o preço da perda, seja de conhecimento, saúde ou conexões humanas. A vida é uma jornada que exige participação ativa, e cada aspecto dela merece nosso esforço. Afinal, é assim que mantemos tudo o que realmente importa vivo e vibrante.

O que você está deixando de usar que está atrofiando dentro de ti? Sua capacidade de aprender algo completamente novo? Sua empatia? Alguma habilidade física/motora? Sua paciência? Caridade? Fé? Ambição? Vitalidade?

Pense nisso.