Assumindo riscos
Compreender e administrar riscos é vital para o sucesso. Riscos conhecidos são gerenciáveis através da avaliação de sua probabilidade e impacto. Já os desconhecidos, exigem estratégias de emergência e flexibilidade para se adaptar às mudanças.
Hoje quero dar continuidade a uma ideia que comecei a apresentar no artigo "Você sabe a diferença entre risco e incerteza?" e pra isso vou iniciar minha "tese" com uma citação:
"Preocupação não é doença, mas sinal de saúde. Se você não está preocupado, não está arriscando o bastante."
É com essa frase que se inicia o capítulo do primeiro grande axioma no livro "Os Axiomas de Zurique".
Eu tive contato com esse livro em 2007 quando comecei a estudar sobre dinheiro e investimentos e dentre os diversos ensinamentos, histórias e axiomas que o livro aborda, o primeiro foi o que me marcou mais, e acredito que isso se deu pela forma lógica que o autor expõe seus argumentos e como eles quebraram alguns paradigmas que eu tinha em minha mente.
Os axiomas menores descritos nesse capítulo são provas disso, as histórias contadas para ilustrar que "Só aposte o que vale a pena" e "Resista à tentação das diversificações" se mostravam um contrassenso para mim naquele momento e talvez, para algumas pessoas ainda os sejam. Recomendo a leitura.
Quando penso sobre riscos, sei que existem dois tipos: os que eu conheço e os que desconheço. Portanto, logicamente, só posso atuar sobre os riscos conhecidos e no máximo procurar ajuda para mapear aqueles que estão fora do meu campo de visão.
Riscos conhecidos
No post Ushuaia 2016 — Preparação, onde relato minha preparação para uma viagem de moto ao Ushuaia, eu já dei uma breve pincelada sobre esse tema, mas hoje quero aprofundar um pouco mais.
Qualquer atividade envolve risco, e assim como a maior parte das nossas ações diárias, nós lidamos com eles no modo automático. Porém, quando fazemos algo fora do usual acabamos colocando uma energia maior nela. E ao se tratar de gerenciamento de riscos há dois pontos importantes que devemos levar em conta ao avaliar o risco que iremos tratar, são eles: probabilidade e impacto.
Probabilidade
A probabilidade de um determinado evento de risco acontecer é a chance que aquilo tem de se concretizar e eu ter que lidar com a situação. Este ponto é muito importante, pois eu vejo muitas pessoas, e em alguns caso me incluo nessa conta, fazerem uma péssima avaliação dessas probabilidades.
Impacto
O impacto é o dano que será causado no caso da ocorrência do evento, ou seja, quais os prejuízos terei que absorver ou lidar caso o risco que assumi aconteça. Assim como a probabilidade, é muito comum uma análise superficial dos impactos dos riscos que assumimos. Porém, diferentemente da probabilidade, o impacto tem um fator subjetivo, pois algo que pode ser muito ruim para você, pode não ser tão ruim assim para outras pessoas e vice-versa.
Analisando riscos
Avaliar a probabilidade é o primeiro passo na análise de riscos, porque permite identificar quais deles têm maior chance de se materializar e, portanto, devem ser monitorados mais atentamente.
Por exemplo, é muito mais provável que você morra de uma doença qualquer do que vítima de um acidente, agressão ou qualquer tipo de violência, mas aposto que você gasta muito mais tempo e energia se preocupando com assaltos e violência do que com sua saúde, pelo menos é o que eu vejo na maioria das pessoas, se você é diferente, parabéns!
Poderia citar a questão de vieses que existentes nesse caso, como o viés da disponibilidade, que já expliquei neste artigo: Como os vieses moldam nossas percepções, porém, no exemplo que apresentei há o poder do impacto que a ocorrência do evento tem na nossa vida. Isso deixa claro que, não podemos fazer uma simples análise isolada da probabilidade de um risco, ela sempre deve ser analisada em conjunto com o impacto que ele traz.
Pelo exemplo anterior, gastamos muita energia tentando mitigar um risco: não morrer num assalto ou ser agredido, que tem baixissíma probabilidade de acontecer, mas um alto impacto. Enquanto não damos atenção a exercícios físicos e dieta balanceada, que evitariam um evento de alta probabilidade, no caso uma doença. Mas aí entra a dúvida, qual o impacto de uma doença? Depende. Pode ser baixo, médio ou alto e essa indefinição provavelmente é o que nos faz não dar tanta importância assim e assumirmos o risco.
Há ainda o fator subjetivo do impacto, para algumas pessoas, uma doença pode ser tratada, enquanto uma violência não. Para outras, uma doença pode não ter tratamento, já um assalto pode não ser nada demais se você apenas entregar o que o bandido quer. Não quero criar uma discussão de valores, apenas apresentar que a visão de impacto de um risco nem sempre é um consenso.
Assumindo riscos
Perceba que ao assumirmos um risco, é esperado que tenhamos uma ideia de qual é a probabilidade dele acontecer e qual o impacto que sua ocorrência terá. Ao decidirmos assumí-lo, há duas ações que podemos fazer, uma que chamo de plano de mitigação e outra que dou o nome de plano de contenção.
Plano de mitigação
Mitigar significa suavizar, deixar mais brando, ou seja, o que posso fazer para que o risco que eu assumi realmente não aconteca? Não é nada muito elaborado, apenas ações que eu posso tomar para que a sorte me favoreça.
Plano de contenção
Vamos pensar no pior, caso o evento ocorra, que ações eu devo tomar para minimizar os danos, ou ainda, como eu posso reduzir o impacto caso o risco assumido se concretize.
Mapa de riscos
Ao nos planejarmos para uma ação especial, é interessante criarmos um mapa de riscos, nele listamos os riscos, probabilidades, impactos, planos de mitigação e contenção. Com um mapa de riscos podemos avaliar de forma ampla os riscos que estamos assumindo e entender o quanto estamos expostos, eles são importantes para avaliarmos a interdependencia entre os riscos que estamos assumindo.
Um exemplo comum é no mercado financeiro, quando investimos em vários ativos diferentes, como ações, fundos de investimentos e CDBs, estamos diluindo nosso risco, porém, mesmo colocando dinheiro em ativos diferentes podemos estar concentrando nossos investimento em um mesmo setor. Se possuirmos ações de empresas de petróleo, investirmos em fundos que investem em petróleo e aportamos dinheiro em CDBs de petrolíferas ou de fornecedores de petrolíferas, apesar de um portifólio diverso, temos um risco concentrado em um setor. Um mapa de risco nos ajuda a ter a visibilidade desse risco sistêmico.
Exemplo de mapa de riscos
A seguir demonstro alguns mapas de riscos que já fiz.
Compreender os riscos conhecidos nos dá uma base sólida para operar no mundo com uma sensação de controle e previsibilidade. Desenvolver estratégias para mitigar e conter estes riscos é essencial, mas nunca podemos esquecer que o universo dos riscos é vasto e muitas vezes esconde armadilhas que ainda não conseguimos ver.
Convido você a reflexão sobre os riscos que já assumiu: Como você os gerenciou? O que aprendeu com eles? Compartilhe suas histórias na seção de comentários; elas podem servir de inspiração ou alerta para outros. Vamos avançar para terreno ainda mais complexo e intrigante: os riscos desconhecidos.
Riscos desconhecidos
Agora é que vem a parte dura do jogo, assumir e gerenciar os riscos conhecidos é algo que podemos conviver, o difícil são os riscos que estamos correndo sem nem saber que estamos expostos. Como diz o ditato:
Tem mais sorte que juízo.
Um exemplo clássico desse tipo de risco são eventos que fogem do padrão, como por exemplo, catástrofes naturais, uma pandemia, ou uma fraude.
Além da pandemia de COVID-19, que afetou o planeta inteiro, recentemente, tivemos aqui no Brasil, uma fraude financeira nas Lojas Americanas, que causou prejuízos a milhares de pessoas - investidores, credores e funcionários estavam "comprados" com um risco que não tinham a menor ideia de estar correndo.
Nós sempre estamos expostos a crimes, esse é um risco que corremos a todo momento, não há nada que possamos fazer para evitar esse risco sistêmico, é como o risco de morte, basta estar vivo que você já assumiu este risco. O que pretendo tratar aqui são aqueles riscos que não sabemos exatamente quais são, apenas que estão ali, mas não conseguimos vê-los, porém, outras pessoas podem enxergá-los, são os riscos que não mapeamos.
Há diversos riscos desconhecidos que são inimagináveis, até acontecer. Por exemplo:
- Os maiores concorrentes, rivais há anos, anunciarem uma fusão;
- O maior cliente sofrer um calote e suspender novos pedidos;
- O melhor funcionário, depois de uma promoção, pedir demissão;
- Após comprar um carro novo, a montadora, anunciar a saída do país;
Todos esses são exemplos de eventos que vi acontecer ou aconteceram comigo e os responsáveis não tinham essa possibilidade mapeada, apesar dos riscos serem visíveis para outros atores.
Impacto desconhecido
Outra situação comum que acontece, independente do tipo do risco, se conhecido ou não, é o impacto desconhecido. Muitas vezes acreditamos que ao acontecer um determinado evento, haverá um impacto e na verdade acontece algo diferente.
Um exemplo recente foi o Brexit, ao decidir deixar a união européia, o Reino Unido causou uma série de impactos em diversas frentes que não estavam previstos e causam problemas até hoje na região.
Riscos e impactos desconhecidos, o que podemos fazer? Como se preparar para algo que não sabemos o que é? Como desviar de algo que não vemos? Como enfrentar algo que não esperamos?
Se preparando para o caos
Algumas pessoas são mais resilientes que outras, todos nós vivemos em meio a um horizonte de incertezas, alguns ignoram isso, outros, no entanto, investem muita energia tentando antecipar e controlar tudo. É muito gostoso operar dentro do conforto da nossa compreensão, mas o caos se impõe em algum momento, e portanto, um bom plano é aprender a lidar com ele de alguma forma.
A pandemia do COVID-19 é um exemplo que ilustra a importância da preparação para riscos desconhecidos. Empresas e indivíduos que já tinham planos de contingência para eventos extraordinários conseguiram se adaptar e responder mais rapidamente à crise do que aqueles que foram pegos completamente desprevenidos.
Portanto quais medidas podemos tomar para nos prepararmos para o desconhecido? Aqui estão algumas ações fundamentais:
- Reserva de emergência: Manter uma reserva financeira para cobrir despesas e prejuízos inesperados é um princípio básico de educação financeira. Isso garante um alívio imediato para absorver prejuízos iniciais e tempo para se reajustar a novas circunstâncias. O dinheiro nem sempre resolve todos os problemas, mas a falta dele, com certeza também não, muito pelo contrário, agrava a maioria dos problemas.
- Diversificação de riscos: Colocar "todos os ovos em uma cesta" é uma estratégia arriscada quando se trata de riscos desconhecidos. Diversificar investimentos, fornecedores, clientes e até mesmo habilidades pessoais podem aumentar a resiliência. Ter toda a receita vindo de uma única fonte é um risco, assim como ter uma única habilidade, de certa forma, também é.
- Planos de resposta a emergências: Desenvolver e revisar periodicamente planos de respostas a emergências. Isso fornece um roteiro para ação rápida em caso de um evento inesperado. Isso inclui planos de evacuação, comunicação de crise e continuidade de negócios. Você sabe o que fazer caso o seu carro seja roubado? Caso sua casa pegue fogo, o que você faz? Se tropeçar e torçer o pé, para qual hospital você vai? Caso você esqueça sua mochila em algum lugar, quem a encontrar, conseguirá descobrir que é sua?
- Aprendizado e adaptação contínuos: Em um ambiente que está constantemente mudando, a capacidade de aprender rapidamente e de se adaptar às novas condições é indispensável. Isso pode significar a necessidade de atualizar constantemente o conhecimento e as habilidades que possui. Qual foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?
- Vigilância e monitoramento: Manter-se informado sobre tendências e sinais de alerta, tanto dentro como fora do seu setor, pode ajudar a detectar ameaças emergentes que ainda não estão no radar convencional.
- Cultura organizacional resiliente: Fomentar uma cultura que valoriza a preparação, a flexibilidade e a iniciativa pode capacitar os membros da equipe a agir de forma eficaz em tempos de crise.
- Relacionamentos e redes de apoio: A construção de uma rede de contatos pode oferecer suporte e recursos adicionais. Em tempos de adversidade, parcerias podem ser fundamentais para a sobrevivência ou a recuperação.
- Seguros e hedging: Transferir ou compartilhar parte do risco através de seguros ou instrumentos de hedging pode ser uma estratégia valiosa, especialmente para eventos de alto impacto, mas baixa probabilidade, como um roubo/furto de um veículo ou variação cambial.
- Incentivar comportamentos preventivos: Investir em treinamento e conscientização sobre riscos ajuda a criar uma atitude proativa e vigilante em todos os níveis organizacionais e pessoais.
Toda ação de preparação e prevenção é uma espécie de "apólice de seguro" contra o futuro incerto. Ao investirmos na máxima de "esperar o melhor, mas preparar-se para o pior", nos posicionamos para potencialmente sobreviver ao caos e emergir dele mais fortes e mais sábios.
Para concluir, a gestão de riscos pode parecer um jogo de probabilidades e estatísticas, mas no fundo, tem uma grande questão pessoal de entender quais os riscos você está disposto a assumir para alcançar seus objetivos.
Seja nas finanças, na carreira, nas relações interpessoais, ou em qualquer outra área, é importante recordar que o verdadeiro valor está em viver de maneira autêntica, e isso significa que em algum momento teremos que sair da zona de conforto e assumir riscos.
Espero que este artigo tenha lhe ajudado a esclarecer a diferença entre riscos conhecidos e desconhecidos, e identificar meios de mitigar e conter os possíveis impactos negativos. Adoraria ouvir suas experiências pessoais sobre correr riscos. Por favor, não hesite em deixar algum comentário para compartilhar suas ideias e experiências!
E, claro, se você acha que esta postagem pode ajudar alguém que você conhece a entender melhor sobre riscos, compartilhe com essa pessoa. Saber lidar com os riscos é parte fundamental para o sucesso em todas as áreas da vida.
Lembrando que risco faz parte da vida e que saber avaliá-los de maneira consciente e estratégica pode fazer toda a diferença entre o sucesso e o fracasso de suas decisões. Talvez seja isso que, aliado a constância e paciência, diferencie os vencedores daqueles que desistem rápido demais.
Obrigado pela sua leitura e até o próximo post!