Conflito de gerações ou geração de conflitos?

Conflito de gerações ou geração de conflitos?

É muito comum as pessoas mais velhas falarem: "No meu tempo não era assim, tinha que ralar!", ou ainda: "Na minha época não tinha essa moleza, hoje as coisas são muito mais fáceis!". Isso é o que eu costumava ouvir dos mais velhos, principalmente quando iniciei minha carreira como estagiário de TI no RH do Unibanco.

"Programar em VB é fácil, quando comecei não existia IDE, fazia tudo em C/C++ usando editor de texto!" - Gabavam-se os mais velhos.

Pois bem, ultimamente tenho me sentido um velho.... Passei a estudar tecnologias mais modernas e percebo como está cada vez mais fácil fazer as coisas. Não é querendo me gabar, muito pelo contrário, lembro da construção do meu TCC da faculdade onde escrevemos muitas linhas de código para fazer um Sistema de Ordem de Serviço usando N-camadas, com DLL's escritas em C++, Stored Procedures em T-SQL, frontend feito em ASP, CSS e muito javascript com chamadas assíncronas.

Hoje em dia isso parece loucura, mas era o mínimo para um sistema estável e bem projetado. Lembrei disso após ver esse vídeo que me foi passado por um colega de trabalho:

Simon Sinek on Millennials in the Workplace

Muito se falava de Geração X, Y, Z e agora a onda são os Millennials, que nada mais é do que a generalização do genérico das gerações anteriores. Entendo que essa classificação serve para estabelecermos um certo entendimento sobre um determinado grupo, porém na minha visão isso é uma grande perda de tempo e só serve para gerar conflito.

Ao criarmos definições para grupos, apenas limitamos a visão e alimentamos o preconceito. Isso mesmo! Basta ler alguns artigos sobre as características de cada geração e lembrar de alguém que você conheça naquela faixa etária que automaticamente você se verá atitudes dessa pessoa que se enquadram naquela geração.

Lendo bastante sobre gerações, cheguei a conclusão que alguns traços são pertinentes não a geração em si, mas ao ciclo do desenvolvimento humano.

Muitas características atribuídas aos Millennials, são traços da juventude em si. Creio que a forma de manifestação desses comportamentos tenha mudado, pois vivemos num mundo diferente, altamente conectado.

Da mesma forma que não existia a internet nos anos 70, aquela geração se diferenciou das demais por um comportamento típico da época, que nunca irá retornar. E hoje, adivinha quem reclama do comportamento subversivo das novas gerações? Pois é.

Toda generalização nos cega e levanta barreiras que apenas o olhar no indivíduo pode transpassar, e tratar toda uma geração baseada em pesquisas que chegam a beirar o esoterismo é arriscar perder bons momentos e oportunidades apenas pela incapacidade de distinguir pessoas boas do restante, e isso não depende da geração.

A maioria dos Millennials apresenta uma grande tendência a valorizar um propósito na sua profissão e ser colaborativo, e os especialistas definem esses comportamentos como traços dessa geração - para mim esses são marcos da juventude que estiveram presentes em todas as gerações anteriores, porém não tinham mecanismos para que essa atitude fosse notada, pois o acesso e disseminação da informação não estava nos patamares atuais.

Enfim, ao jogarmos os membros de nossas equipes em grandes "sacos de geração" limitamos os talentos e extraímos apenas o que aquela geração pode oferecer, de bom ou de ruim, dentro dos limites que estabelecemos e isso é um problema criado por velhos, que sempre esperam menos da próxima geração, afinal, no meu tempo não era assim.

E você, tem se sentido velho também?

(este texto foi pulicado originalmente em meu LinkedIn em 13/01/2017)