Quem vigia seus pensamentos?
Hoje quero começar com uma pergunta simples, mas poderosa:
Você controla os seus pensamentos?
Talvez você já tenha se feito essa pergunta em algum momento — ou talvez nunca tenha parado para pensar nisso. Mas o fato é que essa dúvida é antiga. Tão antiga que já inquietava filósofos lá atrás. Um dos mais famosos a mergulhar nesse tema foi René Descartes. Na sua obra Discurso do Método, ele propôs um caminho para pensar melhor, com mais clareza, usando a razão como bússola. E foi dali que surgiu a icônica frase:
“Penso, logo existo.”
Mas vamos ser sinceros: quem nunca agiu no impulso, mesmo sabendo o que “deveria” fazer? Quantas vezes você já tomou uma decisão e, só depois, se deu conta de que foi movido por uma emoção, um desconforto ou até mesmo por puro cansaço?
A verdade é que, por mais que a gente acredite estar no controle, há forças invisíveis operando nos bastidores. Coisas que moldam nossos pensamentos e decisões — às vezes de forma tão sutil que nem percebemos.
Leio bastante filosofia, principalmente sobre estoicismo, gosto da ideia de governar a própria mente. Mas aí vem a dúvida: será que só força de vontade resolve?
A cada reflexão, percebo que, para realmente entender e fortalecer essa tal "razão", a gente precisa olhar além da filosofia. Precisamos entender o que move nossos comportamentos — desde os mecanismos biológicos e psicológicos, passando para o ambiente em que estamos inseridos.
Foi aí que caiu uma ficha importante: se eu quiser mudar algum comportamento, primeiro preciso descobrir o que me controla sem que eu perceba.
E essa percepção me levou a uma pergunta provocadora — que já foi feita lá no tempo do Império Romano, por sinal. O satirista Juvenal escreveu:
“Quem vigia os vigilantes?”
Quando aplico essa pergunta a mim mesmo, um novo dilema aparece:
Quem vigia a minha razão?
Quem decide o que eu penso, no que acredito, como ajo?
Em outras palavras:
Quem controla o controlador?
Penso que essa é daquelas perguntas que não têm uma resposta simples. Porque a mente humana não é uma linha reta. É uma colcha de retalhos — de influências, experiências, emoções, memórias e até hormônios.
A ciência também nos mostra isso. O neurocientista David Eagleman, por exemplo, propõe que somos uma “democracia biológica” — temos uma espécie de parlamento interno, onde vários sistemas disputam influência o tempo todo. E o nosso “eu” consciente? Muitas vezes é só um porta-voz, justificando decisões que já foram tomadas lá, no fundo do cérebro.
Mas calma. Isso não quer dizer que estamos condenados à passividade. Pelo contrário. Ao reconhecermos essas influências invisíveis podemos lidar melhor com elas.
Como disse o imperador e filósofo Marco Aurélio:
"Você tem poder sobre sua mente — não sobre eventos externos. Perceba isso, e encontrará a força.”
A neurociência tem um nome bonito pra isso: neuroplasticidade. É a capacidade que o cérebro tem de se transformar com a prática. Com atenção plena, meditação e intenção, a gente pode observar nossos próprios pensamentos e, aos poucos, mudar como reagimos a eles.
É como se você fosse um rio... mas também o observador do rio.
Fluindo — e se vendo fluir.
Talvez, no fim das contas, o ideal não esteja em controlar cada pensamento, mas em escolher a quais pensamentos dar atenção. É isso que Viktor Frankl, sobrevivente dos campos de concentração, expressou de forma tão profunda:
“Entre o estímulo e a resposta existe um espaço. Nesse espaço está o nosso poder de escolher. E nessa escolha reside o nosso crescimento e a nossa liberdade.”
Então... voltando à pergunta que iniciou essa conversa:
Você controla seus pensamentos?
Talvez a resposta mais honesta seja: nem sempre.
Mas podemos aprender a cultivar uma relação mais consciente com eles.
Podemos desenvolver a habilidade de observar o observador, de questionar o questionador.
E nessa dança entre controlar e ser controlado, entre decidir e ser levado, a gente não encontra uma resposta final — mas descobre um caminho. Um caminho de autoconhecimento contínuo, onde somos, ao mesmo tempo, o vigiado e o vigilante. O pensamento e o pensador.
Como disse Carl Jung:
"Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, acorda."
E você? Já parou pra pensar quem — ou o quê — está realmente por trás dos seus pensamentos?
Entender o que guia nossos pensamentos é o primeiro passo. Mas o que fazemos com isso no dia a dia é o que realmente importa. Por isso, separei 9 hacks simples e práticos para me ajudam a retomar o controle da rotina — e, de quebra, da minha mente.
9 Hacks para assumir o controle do meu dia
Você já sentiu que está no piloto automático, tomando decisões sem nem perceber? Ou parece que, mesmo tentando, seu dia simplesmente escapa das suas mãos? Já passei por isso, e te entendo bem. Mas com pequenas mudanças de abordagem — e alguns truques de “manipulação” inocente do seu subconsciente — dá pra virar o jogo. Olha só:
1 - Corte o excesso
Nosso cérebro trava quando aparecem opções demais. Sabe aquele bug na hora de escolher entre várias tarefas ou até mesmo o que fazer no tempo livre? A solução é cortar o excesso: escolha apenas entre duas opções. Por exemplo, troque “O que vou fazer hoje?” por “Caminhada ou livro?”. Você sente o alívio na hora.
2 - Torne tarefas chatas mais suportáveis
Transforme aquele momento arrastado em algo menos doloroso. Junte uma tarefa que incomoda com algo prazeroso: tome um café gostoso enquanto resolve burocracias, ou coloque sua playlist favorita no fone na hora do trabalho pesado. O segredo? Seu cérebro associa o momento ruim a uma recompensa boa.
3 - Expectativa muda tudo
Sabe quando você já entra num lugar pensando que vai ser chato? Pronto, acabou de dar força para que realmente seja. Nosso cérebro é igual cônjuge, ama confirmar que está certo! Agora, tente entrar em um ambiente repetindo: “Isso vai ser incrível”. Surpreendentemente, ele começa a buscar provas para te convencer de que é mesmo um bom momento.
4 - Não alimente monstros
Sentiu raiva, tristeza, ansiedade? Respire! Em média, emoções intensas duram menos de um minuto e meio, e se você não ficar alimentando o sentimento, ele morre de fome. Deixe passar, como uma onda. Depois, simplesmente siga.
5 - Termine bem, lembre bem
Seu cérebro não grava o dia inteiro — ele lembra do ponto alto e do desfecho. Ou seja: valorize os pequenos finais. No fim do dia, relembre ou anote três coisas boas, comemore qualquer vitória (nem que seja ter sobrevivido ao trânsito!) ou ouça aquela música que sempre te levanta. Seu cérebro vai registrar: “Hoje foi um dia bom”, mesmo que o restante tenha sido só na média.
6 - Dê um nome engraçado à ansiedade
Quando aquele pensamento ansioso bate, que tal dar um nome absurdo pra ele? Chama de “Tonho”, “Carminha”, ou até "Lord Drama III". O humor desarma e tira um pouco do peso do drama, e juro que funciona!
7 - Minuto de Pausa
Você não precisa aceitar tudo de primeira. Sabe aquele impulso de concordar antes mesmo de refletir? Dê uma pausa. Dizer “sim” para tudo faz parecer que seu tempo não vale nada. Respire antes de tomar decisões — você ganha respeito e tempo.
8 - Hack do Tempo
Quer sentir que os dias não estão passando em branco? Experimente algo novo, nem que seja uma comida ou bebida diferente, ou mudar o caminho para o trabalho. Pequenas novidades mandam recado para o cérebro: “preste atenção!” e, de brinde, aumentam a sensação de tempo vivido. Eu gosto de passar em pelo menos uma rua nova toda semana, o que geralmente me leva a conhecer algum comércio novo, seja restaurante, loja ou até mesmo um café, que, eventualmente, acabo experimentando. E você? Qual foi a última novidade que despertou sua atenção?
9 - O truque mais fácil para elevar o humor
Ouvir de 5 a 10 músicas por dia é quase uma trapaça para o cérebro: fortalece o sistema imunológico, reduz dor e derruba ansiedade. Coloque uma trilha sonora nos seus dias e sinta o clima mudar. Hoje em dia é muito fácil fazer isso com plataformas como Spotify, Apple Music, Deezer e etc. (me senti um velho falando isso)
Voltando à nossa pergunta inicial: quem vigia os seus pensamentos?
Talvez a resposta mais profunda seja: você pode ser esse vigilante, mas precisa estar presente e consciente para assumir esse papel.
Como vimos, nossos pensamentos são influenciados por uma complexa teia de fatores – biológicos, psicológicos, ambientais – muitos deles operando nas sombras da nossa consciência. E como para que qualquer mudança aconteça é necessário reconhecer essa realidade, sem julgamento.
Os pequenos hacks que compartilhei são mais que truques de produtividade, são ferramentas de presença. Cada um deles, à sua maneira, convida você a sair do piloto automático e assumir o papel de observador ativo dos seus próprios processos mentais.
Como diria Viktor Frankl, nossa verdadeira liberdade está naquele espaço entre o estímulo e a resposta. E é justamente esse espaço que ampliamos quando praticamos a consciência sobre nossos pensamentos.
Não se trata de controle absoluto – isso seria uma ilusão. Trata-se de uma dança consciente, onde às vezes guiamos e às vezes somos guiados, mas sempre tentando manter os olhos abertos para o que realmente está acontecendo.
Penso que não há como dominar cada pensamento, mas podemos tentar cultivar uma relação mais consciente com nossa mente. E isso, como qualquer relacionamento importante, exige presença, paciência e prática diária.
E você, está pronto para se tornar o vigilante atento dos seus próprios pensamentos? Comece com um hack hoje – e observe, com curiosidade genuína, o que acontece quando você assume o papel de observador da sua própria mente.
Afinal, como bem disse Carl Jung, "quem olha para dentro, acorda". E talvez seja nesse despertar contínuo que esteja nosso crescimento.